A cada ano, a OMS (Organização Mundial de Saúde), desde 1987, ressalta a importância de um fumante largar o cigarro e assim evitar males à sua saúde. Também a cada ano um grande número de fumantes promete que vai parar de fumar e deixa a promessa de lado nos primeiros dias após o Dia Mundial de Combate ao Tabagismo, lembrado em 31 de maio. A promessa se esvai junto com a fumaça e se perde em um misto de prazer e culpa. Segundo o cardiologista Marcel Coloma, isso ocorre porque o desejo de parar de fumar é como a imagem da fumaça: da boca para fora.
— O passo mais difícil para o fumante parar de fumar é ele realmente querer parar de fumar. Sempre sugeri que o desejo tem de partir dele. Muitas vezes as pessoas vêm com tratamento trazido pelo marido, pelo filho, pela esposa e aí não dá certo, porque a pessoa, no fundo, não quer, já que terá de se esforçar muito no tratamento.
Claro que há casos em que, apesar de o desejo existir, acaba não prevalecendo. É o momento em que a ansiedade e o estresse são mais fortes. Coloma, responsável pelo grupo de tratamento de tabagismo da Sociedade Brasileira de Cardiologia, diz que, em geral, o uso do cigarro está relacionado à fuga dos problemas e do estresse do dia-a-dia. Para ele é até melhor esperar um pouco antes de iniciar o tratamento se o fumante estiver passando por momentos extremos de ansiedade.
— O fumante tem mais dificuldade de parar de fumar quando está mais estressado, mais ansioso. Nem recomendamos que ele pare no momento em que a situação dele está muito difícil, é preferível melhorar um pouco o lado psicológico dele para depois tentar parar de fumar.
Para Coloma, a segunda etapa, também determinante, vem após o fumante chegar à conclusão de que realmente quer deixar o cigarro. É quando ele precisa se conscientizar de que não pode resolver o problema sozinho. Nos casos em que há tratamento, o médico conta que cerca de 40% dos fumantes obtêm êxito durante pelo menos um ano. Mas, conforme ele diz, o número tende a ser ainda maior se o desejo for real, já que as estatísticas em geral não costumam levar em conta esse fator.
— O segundo passo é procurar ajuda. Hoje em dia existem centros especializados, médicos, psicólogos e muitos remédios que ajudam a pessoa a parar de fumar. Há toda uma abordagem psicológica que precisa ser feita no tratamento, junto com a medicação, para facilitar. A mudança de hábito é outra coisa que as pessoas muitas vezem não querem fazer, isso dificulta muito o sucesso em parar de fumar.
Doenças relacionadas
A OMS considera o tabagismo a principal causa de morte evitável no mundo. O tabaco mata cerca de 6 milhões de pessoas por ano, sendo que mais de 600 mil são fumantes passivos, aqueles que convivem com fumantes. Esse número pode subir para 8 milhões de mortes por ano, até 2030, caso não haja maior conscientização.
Mais de 50 doenças estão relacionadas ao tabagismo, entre elas os cânceres de pulmão, boca, esôfago, laringe, faringe e doenças coronarianas. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, no Brasil ocorrem 200 mil mortes por ano, 23 por hora, por causas relacionadas ao tabagismo. Coloma diz que, devido à propagandas anti-tabaco e ao aumento do preço do cigarro, entre outros, o número de fumantes no País diminuiu quase 20% desde os anos 80. Hoje, 25 milhões de brasileiros adultos são fumantes (cerca de 10% da população). Mas ainda há muito a ser feito.
A começar por combater a principal “mentira” criada, involuntariamente, por muitos fumantes, segundo Coloma. Essas falsas convicções, de acordo com o cardiologista, impedem os usuários de largar o cigarro. Em vez de beneficiá-los na contenção da ansiedade, os está prejudicando. E transformando o ato de mentir para si mesmo em mais um vício.
— A maior mentira de um fumante é achar que não vai acontecer nada com ele, que os males só acontecem com os outros. Eu juntaria ainda outra mentira, que é daquele que diz que vai parar quando quiser. Na verdade não é bem assim, ele é um dependente, acha que para quando quer mas não para.
Fonte R7
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