Em todo o Recife, cães são vistos por toda parte, normalmente mal tratados
Leo Motta/Folha de Pernambuco
Leo Motta/Folha de Pernambuco
O grande número de cães e gatos abandonados é um fenômeno cada vez
mais comum nas ruas do Recife. Mal tratados, expostos a sol e chuva, sem
alimentação ou cuidados veterinários, esses animais não são alvo de
qualquer política pública que garanta suas integridades físicas.
Consequentemente, além de sofrerem, acabam se tornando, também, uma
ameaça à saúde dos próprios habitantes da Capital.
A polêmica sobre o que fazer com esse contingente denota a falta de
ações e de projetos das autoridades que deveriam recolhê-los, tratá-los,
castrá-los e, posteriormente, colocá-los para adoção. Não apenas pela
integridade dos cães e gatos, mas também dos humanos. No âmbito do
Recife, duas entidades deveriam dar conta do assunto: a recém-criada
Secretaria Executiva dos Direitos Animais (SEDA), que tem pouco mais de
um ano, e o Centro de Vigilância Animal (CVA). Ao entrar em contato com o
secretário-executivo da SEDA, Rodrigo Vidal, a Folha foi informada que o
recolhimento de animais não é de responsabilidade do órgão, mas do CVA.
“Nosso papel é instruir, principalmente, comunidades carentes, sobre o
não abandono de seus animais e a importância de realizar a castração em
cães e gatos, com o intuito de controlar a população de animais e,
consequentemente, o risco de zoonoses”, explicou. De novembro do ano
passado até o momento, mais de mil animais foram castrados e 505 já
encontraram um lar, conforme a assessoria da pasta. OCVA, por sua vez,
alega não ter condições de abrigá-los e afirma, principalmente, que é
impedido de fazê-lo.
O gerente do Centro, Jurandir Almeida, disse que o recolhimento dos
animais não estaria sendo feito, devido a existência de uma lei estadual
que, segundo ele, proíbe o recolhimento, à exceção daqueles que
apresentam risco de ataque ou contaminação de doenças. “Sendo assim,
ficamos demãos atadas, pois essa determinação do Ministério Público do
Estado complicou nosso trabalho. Além disso, sofremos com a falta de
estrutura para suportar a demanda de animais”, defendeu-se.
Conforme ele, atualmente, o espaço conta com cerca de 40 cães, 20 gatos e
40 equinos. Está com a capacidade totalmente esgotada. Mas a
argumentação de Jurandir é rechaçada por representantes de movimentos de
defesa animal. Tendo como base a Lei Estadual 14.139/2010, que dispõe
sobre o controle de reprodução e regulamentação da vida de cães e gatos
encontrados na rua, a jornalista e vice-presidente do Movimento de
Defesa Animal de Pernambuco, Goretti Queiroz, afirma que a lei não
proíbe nada, muito pelo contrário.
A protetora ressalta que a própria lei determina que animais com
histórico de mordedura, devem ser recolhidos, inseridos em programa
especial de adoção e colocados em local seguro e em condições favoráveis
ao seu processo de ressocialização. “Já os (animais) de rua, devem ser
recolhidos, esterilizados e cadastrados para adoção pelos órgãos
responsáveis. Logo, dizer que a lei proíbe o recolhimento de cães e
gatos é totalmente equivocado. Se falta espaço para abrigar esses
animais, que seja criado um ambiente ou que o local já existente seja
ampliado”, rebateuGoretti em resposta ao CVA.
Até o fechamento desta edição, a Folha tentou contato com a assessoria
do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), mas não havia ninguém
responsável para responder aos questionamentos.
Fonte - Priscilla Costa
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