Governo se apega a alívio momentâneo da Inflação para encobrir PIB.


Diante da falta de notícias positivas no front econômico, o governo elegeu a queda da inflação em junho e em julho como arma para minimizar o baixo crescimento da atividade e garantir um discurso positivo à campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição em 2014. Depois de autorizar o Banco Central a subir a taxa básica de juros (Selic), de 7,25% para 8,50% ao ano, e mandar os ministérios da Fazenda e do Planejamento encontrarem espaço no Orçamento para cortar despesas da máquina administrativa, a chefe do Executivo está convencida de que, ao domar o dragão da carestia, retomará a confiança dos agentes econômicos e minimizará os estragos na sua imagem.

Para a presidente, que discursou por uma hora durante o encerramento da 41ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), no Palácio Itamaraty, a inflação já “vem caindo de maneira consistente” nos últimos meses, o que permite ao governo “ter a certeza” de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) “fechará o ano dentro da meta”, cujo centro é 4,5%, podendo variar dois pontos para baixo (2,5%) e ou para cima (6,5%). Nos 12 meses terminados em junho, a alta do custo de vida chegou a 6,7%, estourando, pela segunda vez neste ano, o limite da tolerância definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Dilma também reforçou que as contas públicas estão sob controle.

Golpe

Segundo especialistas, as palavras da presidente não caracterizam disposição do governo em enfrentar, com vigor, o problema dos preços altos. Reservadamente, até técnicos da equipe econômica admitem que a bandeira da inflação em queda serve de agenda positiva em um momento em que o time de campanha pela reeleição de Dilma acusa o golpe pela falta de notícias positivas. Mas eles ressaltam que ainda é cedo para o Planalto celebrar o IPCA menor, uma vez que há pressões no horizonte sobre os preços, como a alta do dólar. Eles também não acreditam em expansão do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 2% em 2013. Isso, apesar da inabalável confiança do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

A reação ao discurso da presidente foi enfática. “Falar que o IPCA ficará dentro do intervalo (da meta) não é refresco para ninguém. Refresco seria saber quando a inflação vai finalmente voltar para o centro da meta, de 4,5%. E isso ninguém sabe, muito menos o governo”, disse o economista Alexandre Schwartsman, doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley). Nas contas dele, a inflação encerrará o ano com alta de 6%.

Caso se confirme esse número, serão cinco anos consecutivos em que a carestia não deu trégua aos consumidores, ficando sempre muito acima do objetivo perseguido pelo BC. Nos cálculos da economista Adriana Molinari, da Consultoria Tendências, a alta acumulada do IPCA em 2013 será de 5,7%. Mas, segundo ela, o índice dos últimos 12 meses estaria em 7,5% não fossem diversas medidas adotadas pelo governo para reduzir, momentaneamente, a pressão sobre os preços, como a redução nas tarifas de energia elétrica e o adiamento do reajuste dos ônibus. “Sem essas intervenções, certamente, o IPCA fecharia o ano bem acima do teto da meta”, assinalou.


Fonte: D. de Pernambuco.

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