Foto - Wagner Ramos
Depois de analisar prontuários de 1.957 usuários que foram aos Caps no período de julho de 2010 a junho de 2011, os pesquisadores detectaram que a predominância é dos homens, com 78% dos casos. O percentual de mulheres é 22%. Segundo a coordenadora do trabalho acadêmico, a doutora em Sociologia das Drogas, Roberta Uchôa, esse é um aspecto a ser trabalhado. “É preciso entender a baixa procura delas pelos serviços de saúde”, disse.
O trabalho, intitulado “Entre pedras e tiros: perfil dos usuários, estratégias de sobrevivência e impacto social do uso do crack”, mostra também que 35% dos pacientes que buscam ajuda fazem isso espontaneamente, fato considerado positivo. Mas quando confrontado esse perfil de entrada ao indicador de saída dos usuários, o sinal de alerta dos gestores públicos da saúde e assistência social no Recife aparece. Isso porque, entre 55% e 58% dos viciados abandonam o tratamento antes mesmo de receberem alta. “É preciso saber o que acontece”, analisou Roberta Uchôa.
A resposta que os estudiosos procuram para explicarem a fuga do tratamento e o baixo número de mulheres que buscam apoio deve ser obtida, academicamente, com a conclusão da fase qualitativa da pesquisa, que deve ficar pronta no final deste ano. Porém, alguns usuários de entorpecentes entrevistados pela Folha de Pernambuco dão um indicativo da situação. “Nunca busquei ajuda porque não tenho ninguém para me incentivar”, disse uma jovem de 21 anos, que há seis é viciada em crack. Outra mulher, de 25 anos, dependente do crack há 13, chegou a iniciar o tratamento, mas não deu continuidade. “Tenho uma filha que depende de mim. Preciso voltar para as ruas e me prostituir para sustentá-la”, explicou.
O estudo revelou ainda que grande parte das pessoas que buscaram ajuda nos Caps estão na faixa etária dos 37 aos 59 anos (45% homens e 42% mulheres); em sua grande maioria (72%) residem com familiares; são solteiros (61%) e 86% deles apresentam quadros de transtorno mental devido ao uso da sustância psicoativa. Sobre os bairros de procedência, a pesquisa aponta que 2% e 3% residem nos locais tidos como de classe média (Boa Viagem, Casa Forte, Espinheiro, Tamarineira, Rosarinho, Apipucos e Aflitos). Já os provenientes de Casa Amarela, Cordeiro, Iputinga, Ibura, Nova Descoberta, Campo Grande, Afogados, San Martin e Mustardinha, considerados “populares” pelo estudo, ocorrem numa incidência que varia de 26% para os usuários de álcool, 17% para os de crack e 16% para maconha.
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