Briga por ilhas entre China e Japão aquece águas do Pacífico



Pró-China: ativistas chineses aplaudem um barco enviado às ilhas Senkau/Diaoyu, disputadas com o Japão: batalha naval e verbal pela hegemonia do Oceano Pacífico
Foto: Reuters/22-8-2012
TÓQUIO — A disputa por minúsculas ilhotas no Pacífico vem reabrindo, de forma explosiva, feridas antigas entre potências econômicas asiáticas. As Ilhas Senkaku pertencem oficialmente ao Japão, mas a China tem um outro nome para o arquipélago, Diaoyu, e garante ser a dona da terra. Já os governos sul-coreano e japonês trocaram farpas ao longo da semana pela soberania das Ilhas Dokdo, ou Takeshima, como prefere o Japão. Para embaralhar o complexo jogo de poderes e provocações, os chineses mostram suas garras também no lado Sul de seu mar, em impasses com Vietnã e Filipinas, além da eterna rivalidade com Taiwan. A região - fundamental para a estabilidade financeira do planeta - virou um terreno minado.
O primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, deixou de lado ontem o tom diplomático e afirmou que a ocupação das ilhas Dokdo/Takeshima pela Coreia do Sul, em vigor desde 1954, é ilegal. Foi uma resposta a uma recente provocação do presidente Lee Myung-bak - o primeiro líder sul-coreano a colocar os pés nas ilhas da discórdia. Tóquio fez ameaças econômicas contra Seul, indicando que alianças reforçadas nos últimos anos poderiam ser rompidas. O Japão diz ter direito sobre as ilhas desde o século 17. As Senkaku estão com os japoneses desde o fim do século 19, quando as tropas imperiais iniciaram a expansão militar que terminou com a derrota na Segunda Guerra Mundial.
A ocupação japonesa da Coreia e de parte da China foi brutal. O Japão já pediu desculpas, mas lembranças nunca superadas totalmente complicam os impasses.
- O status das ilhas Diaoyu/Senkaku evoca sentimentos mais profundos na psiquê chinesa do que qualquer outra disputa territorial na História da China moderna. Já o Japão sente-se ameaçado pela ascensão chinesa, e teme por sua soberania territorial. Os incidentes mexem com feridas históricas e orgulho, reduzindo a margem já estreita de manobras diplomáticas - explica Stephanie Kleine-Ahlbrandt, especialista em Ásia do International Crisis Group.
No fim de semana, nacionalistas japoneses desembarcaram nas Senkaku, ficando a bandeira do sol nascente. A imagem provocou a ira chinesa e levou milhares às ruas. “Morte aos japoneses, mesmo que a China se encha de túmulos”, gritavam manifestantes. O governo comunista não fez muito para controlar os protestos.
- A China enfatiza a educação patriótica que enaltece os esforços comunistas contra ‘o mal japonês’. Jovens chineses continuam acreditando que o Japão não fez o suficiente para expiar os crimes da guerra - diz Jeff Kingston, da Universidade de Temple, em Tóquio.
A linha mais radical do Partido Comunista quer mostrar que a China deve ser respeitada militarmente. Os chineses reforçaram a presença naval no Mar Meridional, onde se desentendem com o Vietnã pela soberania das ilhas Paracel e com as Filipinas em torno das ilhas Spratly. O aumento do poderio bélico de Pequim ocorreu após os EUA anunciarem, em janeiro, que a Ásia-Pacífico seria o foco central de sua estratégia de defesa.
Poucos analistas, no entanto, acreditam num conflito armado. A China mudará em outubro a liderança do PC. O Japão terá nova eleição nos próximos meses, e a Coreia do Sul trocará de presidente. O cenário é propício ao populismo.
- Também há motivos domésticos movendo tudo isso - observa Kingston.
Yoshihiko Noda já havia sido obrigado a engolir, em julho, uma visita do premier russo, Dmitri Medvedev, às ilhas Kurila, outra região que Tóquio considera sua, embora seja controlada por Moscou desde a Segunda Guerra. Provocado agora por Myung-bak, Noda prometeu ir aos tribunais internacionais. A carta de protesto enviada a Seul foi devolvida — uma tremenda ofensa diplomática. O Japão se recusou a recebê-la de volta, e a imprensa já definiu o impasse com uma expressão: o jogo da batata quente.

Fonte - Jornal o Globo

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