O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu nesta quarta-feira a taxa básica de juros, a Selic, em 0,75 ponto percentual, levando-a de 9,75% a 9% ao ano, de acordo com as expectativas do mercado.
A redução, que já havia sido sinalizada pelo Comitê em sua reunião anterior, chega em meio a esforços do governo para diminuir o custo do crédito no país.
A menor taxa histórica da Selic foi de 8,75% ao ano, de julho de 2009 até o final de abril de 2010, quando foi elevada para 9,5% ao ano.
Além da expansão do crédito a taxas menores, como, por exemplo, no financiamento de automóveis, as manobras do Banco Central têm como objetivo controlar a inflação, cuja meta é de 4,5% para 2012. A meta é medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Entre as atribuições do BC estão os esforços para que a inflação anual fique dentro da meta, dispondo para isso das oscilações na Selic e de outros instrumentos.
O Copom diminui a Selic quando julga que a inflação está sob controle e deseja estimular a atividade econômica.
Quando o Comitê avalia que a economia está muito aquecida, com alta dos preços, a taxa é elevada para incentivar a poupança, desestimular o consumo e manter sob controle a inflação.
Inflação
Para Juan Jensen, economista e sócio da Tendências Consultoria, a redução é equivocada e contradiz esta lógica. 'Essas reduções de juros não deveriam estar ocorrendo, já que as projeções de inflação para 2012 e 2013 estão fora do centro da meta. São medidas incongruentes com o objetivo de manter a inflação sob controle', diz.
Estimativas do relatório Focus apontam que o IPCA fechará o ano em 5,08%, ante 5,06% no relatório da semana passada.
Para o IPCA em 12 meses, as projeções também subiram, para uma alta de 5,47%, ante 5,44% na semana passada. Já as estimativas para 2013 foram mantidas em 5,50%.
A previsão do BC, que consta no Relatório Trimestral de Inflação divulgado no final de março, é de que o IPCA ficará em 4,4% neste ano, pelo cenário de referência - com juros constantes em 9,75% e dólar a R$ 1,75. Para o próximo ano, o BC estima inflação de 5,2%.
Na avaliação da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os índices do IPCA apontam para um cenário melhor para os preços em 2012, e provavelmente, no próximo ano.
Há ainda expectativa de recuperação 'mais modesta para a economia ou que pelo menos o pico desta retomada deve se deslocar para algum ponto em 2013'.
Além disso, na visão da Febraban, voltaram a crescer as preocupações com a crise econômica internacional.
'A piora na percepção de risco de países importantes como a Espanha significa que a probabilidade de que venham pressões desinflacionárias (e de baixo crescimento) do cenário externo voltou a se elevar de forma importante nas últimas semanas. Por conta desses fatores, a chance de a Selic voltar a cair antes do final do ano parece ter aumentado bastante.'
Custo do crédito
As medidas do BC chegam na mesma semana em que Itaú Unibanco, Santander, HSBC e Bradesco reduziram suas taxas de juros para crédito, dias após a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil terem feito o mesmo, por estímulo do governo.
O objetivo é diminuir o spread bancário - a diferença entre os juros que os bancos oferecem para produtos como poupança e fundos de investimento e as taxas usadas para crédito, como financiamento de automóveis, cheque especial e cartões de crédito.
Uma das consequências seria um volume maior de crédito no mercado.
'A baixa do spread é boa, mas não pode haver excesso de crédito. Um aumento sem critério poderia ter impactos negativos sobre a economia, entre eles a alta da inflação, da inadimplência e da criação de bolhas de crédito em alguns setores', diz Samy Dana, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Juan Jensen avalia que a redução concreta do custo do crédito e quantos consumidores poderão de fato se beneficiar disto ainda não podem ser dadas como certas.
'Pode ser mais marketing. No final das contas haverão exigências e medidas de controle que podem limitar o crédito mais barato para apenas uma pequena parcela dos clientes', diz.
O analista acrescenta ainda que os níveis de inadimplência têm subido no país e que a redução do spread neste ano é 'colocar lenha na fogueira neste momento, que já é preocupante'.
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