Alto custo afeta principalmente a indústria nacional.

O alto custo do Brasil, calculado em dólares, é um problema particularmente espinhoso para a indústria. O setor de serviços, cujo encarecimento é a principal causa do fenômeno no País como um todo, está muito mais isolado da competição internacional. E o setor de matérias-primas, apesar de exposto à concorrência externa, se beneficia da grande alta de preços internacionais.

A indústria, porém, tem de lidar simultaneamente com o alto custo do Brasil e com preços internacionais deprimidos pela combinação da avassaladora e barata produção chinesa com a demanda combalida dos países ricos. 'Ou o Brasil fica mais barato e aumenta a produtividade ou vamos virar precocemente uma economia de serviços', diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Ele acredita que há um processo de desindustrialização relativa, que define como o apequenamento da parcela da indústria diante da expansão dos serviços. Para Gomes de Almeida, o Brasil corre o risco de envelhecer, ficar caro e se desindustrializar antes de ficar rico.

O alto preço das commodities exportadas pelo Brasil e os fluxos de capitais são apontados como as principais razões para a valorização do real, o fator mais importante para explicar por que o País está tão caro. Os capitais são atraídos pela boa forma econômica do Brasil e pelos juros ainda bastante elevados, na comparação com as taxas próximas a zero do mundo rico.

Para Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a valorização do real, embora em parte causada pelo preço das exportações, hoje reflete principalmente a entrada de dinheiro no País.

'Estão imprimindo dinheiro loucamente lá fora', ele diz, referindo-se à política dos Federal Reserve (Fed, banco central americano) e do Banco Central Europeu (BCE) de injetar liquidez na economia comprando títulos em poder do público.

O economista Francisco Lopes, sócio-fundador da consultoria Macrométrica e ex-presidente do Banco Central (BC), se diz muito menos preocupado hoje com a atração de capitais pelo Brasil do que em meados do ano passado, quando escreveu um artigo para o jornal Valor Econômico, alertando sobre o risco de uma 'bolha de acumulação de reservas'. Ele defende os cortes da Selic, a taxa básica, pelo Banco Central, que diminuíram o ganho dos capitais especulativos.

'Mas, mesmo no nível atual, de R$ 1,80, o câmbio ainda está atrasado - o BC tem de continuar a baixar os juros devagar, de modo que o real se desvalorize gradativamente e a inflação não saia de controle', ele diz.

Outro fator que pode explicar parcialmente o alto custo de vida no Brasil, quando comparado a outros emergentes, é a grande carga tributária e os impostos indiretos que incidem sobre o consumo.

O nível de câmbio real, porém, é geralmente apontado como o principal fator. O câmbio real não é definido apenas pela cotação do dólar, mas também pelos movimentos de outras moedas relevantes para o Brasil e pela inflação. Como a inflação do Brasil é maior que a americana, o País torna-se mais caro, e o câmbio real se valoriza, mesmo que a cotação do dólar fique constante.

O consultor Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, diz que o alto custo da economia brasileira, medido em dólares, tem claramente uma implicação sobre a competitividade do País. 'O quantum (a quantidade, independentemente de preço) da exportação brasileira está parado', ele observa.

Castelar, que tem recomendações parecidas com as de Pastore para o Brasil lidar com a situação de câmbio valorizado e seus impactos na indústria, lista um conjunto de ações: aumento do esforço fiscal, para ampliar a poupança pública, o que poderia mitigar a valorização; retomada das reformas e de uma agenda de longo prazo, com ajuste estrutural das contas públicas, atacando o déficit da Previdência; melhora do ambiente de negócios; e investimentos em infraestrutura.

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