Alimentação à base de carne crua pode ser nociva para ‘pets’ e humanos

As refeições com carne crua, cada vez mais populares entre donos de cães e gatos, podem estar cheias de bactérias resistentes a vários medicamentos, representando um sério risco para animais e seres humanos, advertiram cientistas nesta quarta-feira (16).
Três quartos de amostras coletadas e testadas na Suíça excederam os limites recomendados para bactérias conhecidas como causadoras de infecções gastrointestinais e mais da metade tinham agentes infecciosos resistentes às medicações projetadas para matá-los, afirmaram os pesquisadores em um estudo publicado na revista científica Royal Society Open Science.
“É realmente preocupante que tenhamos encontrado enterobactérias produtoras de beta-lactamase de espectro ampliado (ESBL, na sigla em inglês) em mais de 60% das amostras”, declarou Magdalena Nuesch-Inderbinen, principal autora do estudo, pesquisadora da Universidade de Zurique, referindo-se a uma enzima que torna ineficaz alguns antibióticos.



“Estas incluem vários tipos de E. coli, que pode causar infecções tanto em humanos, quanto em animais”, acrescentou.

As vendas de comida crua para animais domésticos – também conhecida como “comida crua biologicamente apropriada” ou BARF – disparou nos últimos anos, especialmente a destinada a cães. Atribui-se a dietas como as do paleolítico benefícios como aumentar a vitalidade e a humanidade caninas, mesmo com poucos estudos que sustentem estas alegações.
De fato, associações de veterinários nos Estados Unidos e no Canadá fizeram soar o alerta sobre a comida crua para animais de estimação, com informes mostrando que é uma fonte de infecções por Salmonella e yorsiniose (gastroenterite causada por alimentos) em cães.
E isto, declarou Nuesch-Inderbinen à AFP, também é um problema para os seres humanos.
“Comidas à base de carne crua podem estar contaminadas com bactérias que seriam resistentes a múltiplos antibióticos, incluindo os categorizados pela Organização Mundial da Saúde (WHO) como criticamente importante para a medicina humana”, escreveu ela em entrevista por e-mail.

Pais e mães de pets: cautela 
“Há evidências crescentes de que estes patógenos representam um risco de doenças infecciosas para os humanos, não só durante o manuseio da comida, mas também de contaminação de superfícies da casa e através do contato com os cães e suas fezes”, acrescentou.

Estima-se que haja 140 milhões de cães e gatos na União Europeia e um número similar na América do Norte e no Brasil.
De forma genérica, a resistência a antibióticos se tornou uma importante crise de saúde em todo o mundo.
“A situação com as bactérias resistentes a múltiplos medicamentos saiu do controle nos últimos anos”, completou o co-autor do estudo Roger Stephan, professor do Instituto de Segurança Alimentar e Higiene da Universidade de Zurique.
O uso indiscriminado e às vezes inapropriado de antibióticos permitiu mutações aos microorganismos sobreviventes, que se tornaram superbactérias que superam a capacidade dos novos medicamentos de contê-los.
Devido ao sobreuso de antibióticos na pecuária, os animais criados para o consumo humano se tornaram um importante reservatório de resistência microbiana.
“Assim como a comida convencional para os animais de estimação, a maior parte das dietas baseadas em carne crua se baseiam em subprodutos de animais abatidos para o consumo humano”, destacou o estudo.
Para descobrir exatamente quão contaminados estão os alimentos crus para os ‘pets’, os cientistas testaram 51 amostras de diferentes fornecedores na Suíça, compradas em lojas físicas na Internet.
“Advertimos todos os donos de cães e gatos que queiram alimentar seus animais com uma dieta ‘BARF’ a manusear a comida cuidadosamente e manter estritos padrões de higiene”, disse Nuesch-Inderbinen.
“Os donos de ‘pets’ devem ser conscientes do risco de que seu animal pode estar carregando bactérias multirresistentes e disseminá-las”, acrescentou.

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