Uma pesquisa brasileira confirmou que o remédio domperidona, usado comumente para tratar enjoo e ânsia de vômito em pacientes com Parkinson, aumenta o risco de arritmia cardíaca. Os resultados foram publicados nesta quinta-feira (20) na revista “Nature”.
Foram usados 36 ratos machos em laboratório com peso entre 230 e 300 gramas. Eles foram divididos em quatro grupos em igual quantidade, mas apenas dois deles receberam 6-hidroxidopamina, composto responsável pelo modelo da doença de Parkinson nos estudos científicos.
Dois grupos – um com a 6-hidroxidopamina e outro com uma substância salina (sem eficiência para a doença) – receberam a dose máxima de 80 mg/kg de domperidona. Os outros dois não receberam o medicamento. Os animais foram monitorados com eletrodos inseridos pela cabeça até o coração – método que garante que eles não sejam arrancados pelos roedores.
Os cientistas avaliaram a reação dos ratos após três dias, cinco dias e após duas semanas.
“Depois de cinco dias você já tem uma lesão estabelecida, e a gente pode analisar a situação do coração junto com o processo que leva ao Parkinson”, explicou Fulvio Scorza, professor associado do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Unifesp, vice-diretor da Escola Paulista de Medicina e orientador do trabalho.
Os resultados mostram que o uso da domperidona gera um risco maior de arritmia cardíaca, o que é um problema extra para os pacientes com Parkinson – quase 60% deles já apresentam alterações cardiovasculares.
“A mortalidade da doença de Parkinson aumenta de duas a três vezes, em comparação à população em geral, cinco a dez anos após o diagnóstico inicial. Isso é um fato. Então, nós vasculhamos na literatura o termo ‘morte súbita’ na doença”, disse Scorza.
Segundo ele, há evidências de que as mortes repentinas causadas pela doença possam ser causadas pelo uso do remédio – ou até pela combinação com outros tratamentos.
“Cada vez mais as pessoas precisam entender que a doença de Parkinson é neurológica, mas é preciso uma convergência entre as especialidades médicas, ou seja, outros órgãos podem estar em sofrimento e precisam ser avaliados, como o coração”.
O artigo é assinado pela pesquisadora Laís Rodrigues, da Unifesp. O orientador diz que mais um estudo, mas dessa vez com ratas, está em andamento. A incidência da doença em mulheres é menor: a cada três homens, uma mulher é diagnosticada. Scorza diz que outros artigos relacionam o estrogênio como um hormônio protetor.
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