O risco da automedicação, uma prática comum entre os brasileiros

O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, que foi celebrado ontem, não condiz com a realidade do Brasil. Uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, constatou que 77% dos brasileiros se automedicaram nos últimos seis meses. Entre os menos conscientes da importância de se procurar um profissional especializado estão os moradores da região Nordeste, onde apenas 21% dos entrevistados declaram não utilizar medicamentos por conta própria, sem prescrição. 
Na última semana, entidades ligadas à ONU publicaram relatório alertando que o uso excessivo de medicamentos pode levar a dez milhões de mortes por ano até 2050. As entidades apontam problemas ligados aos remédios antimicrobianos, entre os quais estão antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiprotozoários. De acordo com uma das diretoras do Conselho Regional de Farmácia em Pernambuco, Joyce Nunes, o uso indiscriminado de remédios pode mascarar sintomas relacionados a outras doenças. “Alguns pacientes, às vezes, têm vergonha de perguntar ao médico. Outras pessoas alegam dificuldade em conseguir uma consulta. Mas, o que muitos não sabem é que toda farmácia tem um farmacêutico devidamente capacitado para tirar dúvidas e prescrever alguns medicamentos”, explica.
Inédita na história dos conselhos de Farmácia, o levantamento do CFF investigou o comportamento dos brasileiros com relação à compra e ao uso de medicamentos e servirá para subsidiar uma campanha nacional de conscientização. Outro dado chama atenção no estudo. Cinquenta e sete por cento dos entrevistados afirmam que passaram pelo profissional da saúde, tiveram um diagnóstico, receberam uma receita, mas não usaram o medicamento conforme orientado, alterando a dose receitada. Esse comportamento foi relatado especialmente por homens (60%) e jovens de 16 a 24 anos (69%). O principal motivo alegado foi a sensação de que “o medicamento fez mal” ou “a doença já estava controlada”. 
Um bom exemplo é o eletricista Jamesson Carneiro, 48 anos. Ele conta que vários motivos o levam a tomar medicamento por conta própria. “Para quem depende do SUS, a dificuldade para ter acesso a médicos é grande. Vamos a alguns postos, mas estão fechados ou sem profissionais de saúde para atender a população. Por isso, em situações de emergência, a gente acaba se automedicando para aliviar os sintomas da doença”, comenta. Ele diz ainda que nunca teve efeitos colaterais com os remédios que já ingeriu. “Sempre consigo o resultado desejado, mesmo que seja momentâneo”, acrescenta. 

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