Nos primeiros três meses de 2019, 13,4 milhões de pessoas procuravam emprego no país, ou 12,7% da população economicamente ativa, 1,1 ponto percentual acima do registrado no trimestre anterior. E, sete em cada dez brasileiros que desistiram de procurar e não encontrar empregos estavam no Nordeste. Ou, 70% da população desalentada do Brasil. O número, que choca, foi divulgado ontem na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) realizada pelo IBGE.
Os dados mostram que a taxa de desemprego pernambucana cresceu no primeiro trimestre de 2019 saindo de 15,5% no último trimestre de 2018 para 16,1%, o que coloca o estado no quinto lugar em proporção de desempregados no país, atrás apenas do Amapá (20,2%), Bahia (18,3%), Acre (18%) e Maranhão (16,3%). O desemprego subiu ainda em outras 13 das 27 unidades da federação brasileiras no primeiro trimestre sob o governo Jair Bolsonaro. As maiores variações foram no Acre, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Címar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, explica que esse desalento é preocupante, principalmente porque apenas 26,8% da população ativa do Brasil está no Nordeste. “Além dos desalentados, a região Nordeste está concentrando 37,4% dos subutilizados do Brasil, que quer dizer pessoas que trabalham menos horas que gostariam”, reforça.
O cenário negativo afeta, na análise de Azeredo, principalmente mulheres, negros e jovens, o que acentua as desigualdades e reduz o bônus demográfico brasileiro, que é quando a população economicamente ativa é maior do que as de pessoas com idade não produtiva. “Estamos no quinto ano de crise e continuamos sem boas perspectivas.
O que acontece é que um jovem que tinha 20 anos em 2014 e estava se formando na faculdade pode chegar em 2019 sem nunca ter arrumado um emprego formal em sua área, então são jovens que se tornam rapidamente profissionais obsoletos e isso diminui as expectativas de recuperação da economia não só no Nordeste como em todo o Brasil, inclusive, neutralizando nosso bônus demográfico e influenciando nas notas de risco para investimentos.”
Rafael Ramos, economista do Instituto Fecomércio, acrescenta que a situação se torna mais grave em Pernambuco porque o estado depende de investimentos públicos e o Brasil está mergulhado numa crise fiscal. “O que temos é um reflexo forte no jovem e economia é expectativa, então o que antes era exemplo, um jovem formado que tem um emprego, agora virou incerteza, essa população que se forma e não arranja vaga acaba acreditando que a qualificação não recompensa e ela influencia familiares e amigos, então corremos risco de ter uma geração com baixa produtividade em breve, o que limitará a economia do estado”, acredita. Para o especialista, seria um momento oportuno para que o governo do estado avaliasse concessões de benefícios às empresas que oportunizarem vagas para profissionais recém-formados. “Seria uma forma de reduzir danos”, ressalta.
Apesar disso, Ramos vê possibilidades de um início de recuperação da economia do estado ainda neste segundo trimestre e adianta que a construção civil já está com saldos positivos de geração de empregos. “Apesar da alta entre os últimos resultados, a taxa é inferior ao mesmo período de 2018, quando o percentual era bem mais crítico, com 16,7% de desocupados.
Lembrando que o primeiro trimestre do ano é tradicionalmente de pressão no desemprego, isto porque, existe um maior número de cortes de vagas, por reestruturação de equipes e, no Nordeste, a gente tem as datas dia das mães, dia dos namorados e São João como fortes para o varejo.” Para Alberes Lopes, secretário do Trabalho, Emprego e Qualificação de Pernambuco, o governo do estado faz sua parte correndo atrás de novos investimentos.
“Hoje, por exemplo, anunciamos um novo ciclo do grupo FCA para a fábrica da Jeep em Goiana com aporte de R$ 7,5 bilhões até 2013 o que vai gerar cerca de nove mil novas vagas. A cada mês estamos fazendo novos anúncios como as fábricas da Camil, a Tramontina, Aché e o Complexo Solar Fotovoltaico, entre outros grandes empreendimentos.”
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