Com o que você mais gastou dinheiro em 2017? Moradia, alimentação, remédio ou juros? Pois é, você pode até não perceber, mas esta última opção pode ter arrematado a maior parte do seu orçamento. Pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) explica que, no ano passado, R$ 475,6 bilhõesem juros foram pagos no Brasil em 2017. O número corresponde a 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do País e foi quase que inteiramente pago pelas famílias brasileiras.
Ainda segundo a FecomercioSP, 74,5% deste valor – o equivalente a R$ 354,8 bilhões – foram pagos por pessoas físicas. O valor é 17,9% maior que o registrado em 2016 e vale o mesmo que 372 milhões de salários mínimos ou 8,5% de todo o consumo dasfamílias em 2017. Isso significa que 10,8% da renda anual das famílias brasileiras foi usada apenas no pagamento de juros no ano passado. “Foi a maior despesa individual das famílias, maior que os gastos com refeição fora do domicílio, serviços domésticos e aluguel”, afirmou o assessor econômico da FecomercioSP, Altamiro Carvalho, explicando que o crédito toma 25% da renda das famílias brasileiras e é financiado a um custo muito alto no País.
Carvalho lembrou que a redução da taxa básica de juros (Selic), que caiu de 13% para 7% ao ano em 2017, ainda não foi repassada para os consumidores. Por isso, o crédito continua caro no Brasil – de acordo com a FecomercioSP, a taxa média dos juros praticados no País chegou a 70% em 2017. “A Selic é apenas um pequeno componente da taxa de juros livre, a que chega a consumidores e empresas. Além disso, incidem na taxa de juros, o risco da operação, os impostos pagos ao governo, o depósito compulsório que é deixado com o Banco Central (BC), o custo administrativo e o lucro da instituição financeira”, explicou o assessor da FecomercioSP, lembrando que, entre outras coisas, as taxas relativas ao risco da operação estão acima da média mundial por conta da conjuntura político-econômica do País.
Além disso, pesa no custo do crédito o fato de existir pouco dinheiro disponível para financiamentos no Brasil. Segundo Carvalho, isso acontece porque os bancos ficaram mais reticentes em emprestar dinheiro depois da crise econômica e também porque grande parte da oferta de crédito do País tem ficado com a União. “O governo está com um déficit enorme, de R$ 139 bilhões, e financia esse rombo tomando crédito. Para poder pagar suas contas, o governo toma, então, 75% de todo o crédito disponível no mercado, deixando só 25% para as famílias. E isso faz com que os juros aumentem. Porque, quando o crédito é escasso, o custo é alto”, revelou o assessor econômico.
Mesmo assim, a pesquisa FecomercioSP aponta para um crescimento na tomada de crédito por pessoas físicas em 2017. “Com o início da recuperação econômica em 2017, houve um aumento da confiança, e as famílias começaram a recompor o consumo de bens duráveis, tomando crédito”, explicou Carvalho. As empresas brasileiras, porém, foram no caminho contrário e continuaram sem tomar empréstimos. Por isso, o montante de juros pago por pessoas jurídicas caiu 3% em 2017, ficando em R$ 120,8 bilhões.
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