Cresce demanda pelo Bike PE

Em meio à alta dos preços dos combustíveis, que culminou na greve dos caminhoneiros e na falta do produto nos postos, uma parcela da população tem migrado para a bicicleta como meio de locomoção. O sistema de aluguel Bike PE é um dos termômetros para avaliar o atual processo de mudança na classe média nos últimos seis meses. O número de pessoas cadastradas saltou de 1.887, em novembro de 2017, para 13.296 em abril deste ano, aumento superior a 700%.
A Tembici, que opera o sistema com patrocínio do banco Itaú, registrou aumento de 34% no número de viagens, entre os dias 21 e 27 de maio, em relação ao período de 14 a 20 de maio, anterior à paralisação dos caminhoneiros. Foram 16.730 viagens de 21 a 27. O recorde foi contabilizado no domingo, com 3.498 viagens.

Além do crescimento no número desse indicador, também houve aumento no cadastro do sistema. Na última semana houve um crescimento de 187%. Na semana de 14 a 20 de maio foram realizados 854 cadastros. Já no período de 21 a 27 de maio, o sistema contabilizou 2.450 novos cadastros, praticamente o acumulado de um mês. Nesse período também foi lançado um plano especial diário no valor simbólico de R$ 0,10 até o dia 31 de maio.

Usuário do Bike PE, o estudante de arquitetura Jonas Athias, 25 anos, encontrou a forma mais rápida e barata para se locomover de Boa Viagem até o Bairro do Recife. Não se preocupa com trânsito, combustível ou estacionamento. “Com o VEM Estudante, eu não pago nada e demoro menos de 40 minutos de casa para o trabalho”, contou. Quando não vem de ônibus, ele costuma alternar duas rotas de bicicleta.

“Às vezes pedalo até o Parque das Esculturas, no Pina, e de lá atravesso em um barquinho, onde pago R$ 3. Deixo a bike na Estação da Praça do Arsenal ou venho pela Ponte do Pina e pelo Cais José Estelita. Pelo cais é melhor porque não pago nada”, contou.

Outra vantagem de usar uma bicicleta do Bike PE, segundo Athias, é não se preocupar em ter que guardá-la para a volta. “Depende muito da hora que eu saio. A iluminação à noite é precária e muitas vezes vou para casa de carona ou ônibus e não tenho que me preocupar em levar a bicicleta de volta, mas conheço muita gente que usa a própria bike. É uma escolha”, disse.

O momento atual pode ser uma janela para estimular o uso do modal e reduzir o impacto do transporte rodoviário, mas esse movimento pode esbarrar na infraestrutura ainda insuficiente. No Recife são apenas 51,4 quilômetros de rotas cicláveis e há descontinuidade da malha.

O ciclista Fernando Lima não acredita que a classe média seguirá nessa mudança de modal após a situação dos postos se normalizar. “Não é uma infraestrutura viária atraente e o poder público não vai mudar esse quadro a curto prazo. Vai continuar na bicicleta quem já vinha usando antes da crise”, arrisca. Ele aponta o trabalhador que depende da bicicleta para se locomover todos os dias como o mais esquecido nas políticas públicas. “A classe média tem um maior poder de mobilização, mas em breve voltará para o carro e tudo vai continuar do mesmo jeito para usa a bicicleta todos os dias”.
A última pesquisa de Origem-Destino feita pela Prefeitura do Recife aponta que apenas 4,5% dos trabalhadores usam a bicicleta para se locomover. “A pesquisa foi feita pela internet, mas o trabalhador de perfil que mais usa o modal não tem acesso à web para responder um questionário. Por isso esses dados não refletem a real situação”, opina Guilherme Jordão, da Associação Metropolitana dos Ciciclistas do Grande Recife (Ameciclo).

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