Novo ensino médio deixará legado para a educação

Temas como educação integral, ensino técnico e a busca por uma escola mais atraente não são novos, mas à luz da reforma do ensino médio, passaram a ser encarados de uma maneira diferenciada: estão cada vez mais integrados. Educação de qualidade deixará de ser algo celebrado de forma isolada a partir de iniciativas que vêm tendo bons resultados em estados como Pernambuco, Goiás, Amazonas e Rio de Janeiro. Com as propostas que o Ministério da Educação (MEC) vem tirando do papel após a sanção da Lei Federal 13.415, que instituiu o novo ensino médio, em fevereiro de 2017, levar um ensino digno e condizente com os anseios dos jovens será uma visão de País, um projeto de nação. O legado está sendo construído etapa por etapa.
A professora de História Karla Falcão cita pensadores como Cipriano Luckesi e o próprio Paulo Freire como defensores de uma escola diferente do modelo existente hoje no Brasil. Ela vê como ponto positivo da reforma do ensino médio a construção feita junto à sociedade. “Mesmo com um prazo curto, essa proposta foi alvo de nove audiências públicas e de várias emendas. E é importante lembrar que a flexibilização curricular não vai começar no primeiro ano. O aluno vai ter contato com a base comum e apenas nos 18 últimos meses é que vai poder escolher as áreas em que vai poder se aprofundar. No modelo que há hoje, o aluno tem acesso a uma série de conteúdos e não pode escolher o que quer estudar. Esse excesso de falta de foco forma indivíduos medíocres, nas palavras de Paulo Freire, e sem estímulo para a criação. É preciso tratar o aluno como sujeito da sua própria vida”, explica.
Gestor da Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Professor Cândido Duarte, Paulo Bruno afirma que é hora de “se despir de algumas ideologias” e começar a trabalhar para que as mudanças sejam compreendidas. A Erem, que fica no Recife, é integral, modelo que está sendo incentivado pelo MEC por um programa de fomento. “O professor que dá uma aula e não faz um link com a realidade do aluno não está sabendo ensinar. A escola precisa fazer sentido. Temos que caminhar cada vez mais para isso”, opina.
A estudante Laís Fernanda, 16 anos, cursa o 2º ano do ensino médio integrado ao curso técnico em administração na Escola Técnica Estadual (ETE) Professor Lucilo Ávila Pessoa, no Recife. Os sonhos que ela constrói têm como pilares experiências obtidas nesse modelo de ensino, que também é uma das apostas da reforma do ensino médio, por meio de um programa indutor, o MedioTec. “Tudo o que eu aprendi aqui desejo aplicar no futuro. Realmente é correria, o dia inteiro aqui, mas, quando chega em casa, você realiza a matéria, faz os trabalhos, se envolve em projetos e realiza coisas enriquecedoras”, avalia.
Diretora do Souza Leão de Candeias, colégio da rede particular em Jaboatão dos Guararapes, Maria Dulce de Souza Leão diz que a ideia de uma reforma como a que está sendo proposta é positiva por trazer à tona a busca por uma escola que estimule os alunos. “Sou muito favorável a uma mudança. Acho que precisamos caminhar para essa nova forma, com metodologias ativas, um ensino mais arrojado, uma escola mais criativa, onde as pessoas aprendem não só a ouvir, mas a ser o centro do fazer”, declara.
Mexer num sistema que já funcionava da maneira que estava havia décadas não é fácil. É preciso revisar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio, o que será feito pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). O processo envolve acadêmicos, especialistas e outros profissionais. A expectativa é de que, em 2018, essa etapa tenha um desfecho e siga para homologação do MEC, o que levaria o novo ensino médio a só ter suas primeiras mudanças implantadas em 2019 ou 2020. É um processo a longo prazo, planejado, sem imediatismos ligados a governos. É uma visão de País.
“O ensino médio é um processo que vem se buscando alterar no Brasil há muito tempo. A gente precisa olhar lá para a LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação], quando ela foi construída, na década de 90. Lá já se buscou que houvesse uma flexibilidade para que o jovem pudesse ter trajetórias diferentes. A reforma do ensino médio se conecta a isso”, conclui o secretário de Educação Básica do MEC, Rossieli Soares.

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