Campanha busca combater preconceito que prejudica doação de órgãos no Brasil

                                 

Dentro da campanha Setembro Verde, que serve de alerta para a população sobre a importância da doação regular de órgãos, o dia 27 do mês tem uma importância especial. A data é lembrada como o Dia Nacional da Doação de Órgãos e tem como objetivo intensificar o aumento no número de doadores registrados no primeiro semestre de 2016 no Brasil, segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos).
Ao mesmo tempo em que a ABTO tem motivos para comemorar, tem também de lidar com a realidade em que, apesar da melhora, os números ainda não podem ser considerados satisfatórios. O slogan “Doe órgãos, salve vida!” visa justamente a quebrar alguns tabus, para que o ato de doar seja visto como algo nobre.
Em um universo cuja fila de inscritos para transplantes acumula o significativo número de 33.199 pessoas, o aumento do número de doadores, passando, no segundo trimestre de 2016, de 13,1 para 14 por milhão, no Brasil, ainda não é suficiente. O esperado pela entidade é chegar a 16 doadores por milhão de habitantes.
Segundo o Coordenador da Comissão de Remoção de Órgãos da ABTO, o cirurgião cardiovascular José Lima Oliveira Junior, os números do Brasil, apesar de registrarem alta nos últimos meses ainda é bem abaixo de países considerados avançados nesta questão de doação, como os Estados Unidos, que chegam a registrar índices médios de 30 por milhão.
— Comparando a média dos índices do Brasil, é muito baixa em relação a países como os Estados Unidos. Em algumas regiões do nosso país, como Sudeste e Sul, os índices chegam a 30 por milhão, mas a taxa de doadores efetivos em regiões como Norte e Nordeste cai para dois, três ou quatro habitantes por milhão.
Para a doação de órgãos (coração, pulmão, fígado, pâncreas e rim), tecidos (córnea, ossos, valva — formações membranosas no coração — e pele) e medula óssea é necessária a constatação formal da morte encefálica do doador, quando ocorre paralisação irreversível das atividades cerebrais do indivíduo. Se o doador estiver vivo, pode haver a doação de órgãos como o rim, o fígado e medula óssea.
Um dos empecilhos para uma captação de maior número de doadores tem ligação com a recusa de familiares no momento em que ocorre a morte encefálica, conforme afirma Lima, que aponta o fator cultural como uma das principais razões para o fenômeno. No Brasil, 44% das famílias não permitem a doação, segundo ele.
— Trata-se de uma questão cultural no país, que prevalece em algumas regiões. No Brasil ainda há muita carência de campanhas que falem sobre a doação de órgãos. A informação é fundamental para esclarecer esse assunto e mostrar como alguns dogmas acabam impedindo algo muito importante, que é a doação de órgãos.
Dificuldades do tráfico
Lima informa que cada Estado do país tem sua fila de pacientes que necessitam de transplantes. E elas estão ligadas a uma Central de Transplantes nacional, vinculada ao Ministério da Saúde. Quase todos os transplantes, 95% deles, são realizados pelo Sistema Único de Saúde, em convênios com hospitais públicos e particulares.
— Basicamente o critério para realizar o transplante é o tempo na fila. Os que estão esperando há mais tempo tendem a ter a prioridade. Mas também são levados em conta a gravidade do caso, a compatibilidade entre doador e receptor, com o grupo sanguíneo, o peso e altura do doador, com características específicas para cada órgão.
Um único doador de órgãos tem o potencial de salvar, em média, de oito a dez pessoas. Vale lembrar que idade não é um fator que bloqueia a possibilidade de doação, desde que o indivíduo esteja no grupo dos “potenciais doadores”. No caso de uma atendimento emergencial, segundo especialistas, a equipe médica que atende, além de ter a prioridade ética de salvar a vida, não sabe sobre a decisão do paciente de ser um doador. Isso só ocorre após a comprovação da morte encefálica e com a aprovação dos familiares, o que envolve outro grupo de médicos, chamados especificamente para realizar o transplante.
Um fator que dificulta o tráfico de órgãos, segundo Lima, algo praticamente impossível de ocorrer devido ao rigor dos procedimentos legais, é que cada paciente tem acesso a informações sobre a sua situação na fila. Com uma senha, cada cadastrado pode acessar informações sobre o seu grupo de espera, além de poder clicar em snt.saude.gov.br , ícone “Prontuário do paciente” e buscar o seu tipo de transplante.
Fonte: Blog do Gonzaga Patriota

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