Problemas estruturais atrasam entrega de encomendas nos Correios

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A comerciante Flaviana Rodrigues chegou pouco depois das 9h ao Centro de Entrega de Encomendas (CEE) dos Correios, no bairro do Bongi, no Recife. Tinha uma formatura para ir na noite desta terça-feira (28) e precisava retirar uma mercadoria crucial: o vestido da festa. Os Correios, no entanto, estão limitando o atendimento no local e distribuindo entre 30 e 50 fichas por dia. Diante disso, muita gente chega ao CEE do Bongi e é obrigada a voltar para a casa sem conseguir resgatar sua encomenda. Foi o que aconteceu com Flaviana e com outras pessoas nesta manhã.
Quando ela chegou, as 50 fichas já haviam se esgotado. Flaviana ainda argumentou, mas os funcionários dos Correios disseram que nada podiam fazer e que ela teria que retornar no dia seguinte – e mais cedo. Foi aí que apareceu o também comerciante José Luiz de Assis, dono da ficha de número 49. Era a terceira vez que ele estava no Centro de Entrega de Encomendas do Bongi. Nas duas primeiras, não conseguiu senha. Desta vez, foi o penúltimo da fila. Proprietário de uma loja de autopeças, necessitava das mercadorias para revende-las. “Já estão todas vendidas e preciso entregar. Os clientes estão cobrando. Chegaram faz tempo. Devia ter pego há dias, mas não consigo”, conta.
Mesmo assim, José Luiz não pensou duas vezes: ao ver o desespero de Flaviana, pediu autorização aos servidores dos Correios e cedeu sua ficha à mulher que ele nem conhecia. “Ela precisava mais do que eu. Se o poder público não faz, a gente tenta fazer o que pode”, afirmou, antes de ir embora sem sua mercadoria.
Flaviana comemorou e agradeceu: “O pessoal falou que não tinha jeito, eu já estava indo embora, mas aí apareceu esse anjo da guarda”. A jovem passou mais de cinco horas esperando sua vez. E, quando chegou, a surpresa: os Correios não localizaram o vestido de Flaviana e a mandaram voltar ao CEE do Bongi novamente na próxima sexta-feira (1º). Segundo ela, o produto deveria estar disponível para retirada desde a última quinta (23). Flaviana ficou sem a roupa da formatura. “Vou ter que tentar pegar um vestido emprestado. É um absurdo”, lamentou.
Insatisfação
O atendimento ao público no Centro de Entrega de Encomendas do Bongi começa às 9h, mas a fila já é extensa uma hora antes. Tudo porque, desde o dia 13, conforme indica um documento afixado na parede do local, os Correios instituíram uma limitação de fichas para pessoas que precisam retirar encomendas. “As senhas são liberadas um pouco antes das 9h. Tem dia que são 30 e dia que são 50”, declarou uma funcionária da recepção do CEE, acrescentando que há outras 10 fichas para clientes preferenciais, como idosos e gestantes.
O público reclama. “Comprei os produtos no dia 30 de abril, era para chegarem com seis dias e até agora nada. Ninguém sabe dizer se foi extraviado, se está aqui, onde está. E, para completar, são só 50 fichas, uma fila enorme. A gente paga caro para receber a encomenda mais rápido e acontece isso”, reclama o comerciante Marcos Vinícius França, cuja encomenda é de produtos juninos. “Agora o São João já passou. É véspera de São Pedro”, pondera.
O motorista Antônio Carneiro passou a noite trabalhando e foi direto para os Correios para tentar pegar uma encomenda que, de acordo com o rastreamento feito pela internet, está no Recife desde o dia 17. Não é a primeira vez que ele tenta. “Da outra vez tinham acabado as fichas. Cheguei às 9h e não tinha mais nenhuma. É inaceitável uma situação dessa”, esbravejou.
Já a auxiliar administrativa Ângela Maria mora no Janga, em Paulista, no Grande Recife, e também estava no CEE do Bongi pela segunda vez.
“Minha encomenda chegou desde o dia 8 e não consegui pegar porque o contêiner está fechado. Vim ver se consigo desta vez, cheguei cedo e já tem esse tanto de gente. Isso não existe. É um desrespeito com todo mundo”, diz ela.
Além da quantidade limitada de fichas e da demora para localizar e retirar as mercadorias que chegaram há dias, quem procura o Centro de Entrega de Encomendas do Bongi enfrenta outro problema: a sala de espera só tem lugar para 15 pessoas e o único ar condicionado do espaço está quebrado. É preciso aguardar, por horas, na área externa do prédio.
Causas
O diretor regional dos Correios, Pedro Mota, admitiu que a empresa passa por dificuldades. “Nosso modelo tradicional de prestação de serviço esgotou-se, exauriu-se. Quanto mais carteiros a gente contrata, mas se faz necessário ampliar essa contratação. Tanto é verdade que no concurso atual, que já está extinto, de 2011, nós contratamos 500 carteiros. Hoje temos uma carência de 300 carteiros (…) Nossa máquina de encomenda está com sério problema no leitor óptico e isso faz com que haja rejeição de mais de 80% da carga tratada. Hoje, nós tratamos, aqui em Pernambuco, um milhão de objetos postais. Desse total, entre 40 e 50 mil encomendas. Atendemos, inclusive, alguns estados do Nordeste”.
O diretor explicou o que vem sendo feito para resolver a situação de maneira definitiva. “No médio prazo estamos contratando uma empresa que vai modernizar nossa máquina de encomendas. Isso vai nos dar um ganho de 80% na nossa capacidade produtiva. Também nesse mesmo tom, nós adquirimos três novas máquinas de tratamento de cartas via licitação internacional para melhorar também nossa capacidade produtiva em mais de 30%. E nesse ínterim, como medida paliativa, estamos compondo um mutirão de mais de 200 pessoas nas áreas administrativa, de agências, inclusive de outras regionais, para em um trabalho conjunto, dar vazão a essa carga represada”, acrescentou.
Pedro Mota disse que em duas semanas o serviço deverá estar normalizado. “A nossa expectativa é que, no mais tardar, até 15 de julho nós consigamos colocar o serviço em dia, ou seja, voltar a ter o controle. Mas, ainda sim, até o final do ano, mantendo a força-tarefa enquanto as condições ótimas serão instaladas, que é a máquina de encomendas modernizada e as três máquinas de carta. Mas há um fator preponderante que é buscar, junto ao Governo Federal, a abertura de concurso público ou, como medida atenuadora, orçamento para a gente contratar mão de obra temporária, ou terceirizar aquilo que é possível terceirizar sem ferir a norma e a lei”, encerrou.
Fonte: G1

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