As incertezas em relação à economia da Argentina se estendem às ações do
governo do país, que são cheias de contradições e de idas e vindas.
Depois de anunciar na sexta-feira que voltaria a abrir o mercado de
câmbio, fechado desde 2012, permitindo a compra de dólares pelos
cidadãos a partir de hoje, a equipe econômica da presidente Cristina
Kirchner voltou atrás mais uma vez.
Em entrevista ao jornal argentino Página 12, o ministro da Economia, Axel Kicillof, afirmou que a redução de 35% para 20% na sobretaxa para quem comprar a moeda norte-americana com a finalidade de fazer turismo e compras no cartão de crédito no exterior foi suspensa. Essa redução era uma das medidas anunciadas pelo chefe de gabinete da presidência argentina, Jorge Capitanich, com Kicillof e que valeriam a partir de hoje. O ministro informou ao diário que a abertura do mercado de câmbio será parcial e que a taxa de 20% valerá apenas nos casos de compra dólares para aplicações financeiras. Ele, contudo, não deu mais detalhes.
A forte desvalorização do peso argentino fez com que o governo começasse a rever as barreiras impostas ao mercado de câmbio para segurar a inflação galopante, oficialmente na casa dos 26% a 27% ao ano, mas extraoficialmente entre 35% e 40%. Em meio às remarcações de produtos que tiveram início no fim de semana, Capitanich — que detalhará as medidas hoje — usou o Twitter para dizer que “o governo vai monitorar os preços para evitar abusos”.
A expectativa dos especialistas, no entanto, é de que a facilitação da compra de dólares, mesmo que parcial, criará mais pressões inflacionárias. Com isso, a divisa argentina continuará se desvalorizando, a não ser que o país faça uma série de ajustes fiscais. “Um choque cambial deverá acontecer, mais cedo ou mais tarde, na Argentina. Ele é inevitável”, avaliou o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, José Luís Oreiro.
“O governo argentino criou um populismo fiscal que valorizou fortemente o dólar. Tomou medidas hostis ao capital externo que afastaram os investidores estrangeiros e agora não tem como ampliar as reservas (atualmente em US$ 29,2 bilhões). O retrocesso na economia é tão grande que a situação atual do país não é diferente da enfrentada nos anos 1980 (quando houve a maxidesvalorização que ruiu a moeda da época, o austral) ”, afirmou o professor.
O economista Carlos Eduardo de Freitas, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, também acredita que a tendência é a Argentina chegar a mais uma grande crise. “Os controles impostos para o câmbio estão sendo flexibilizados. Mas, possivelmente, isso não será suficiente e ocorrerá uma ruptura, na qual o governo será obrigado a fazer uma liberalização mais profunda. É difícil administrar a situação artificial que foi criada.” Para Freitas, Cristina “está colhendo a política econômica plantada nos últimos anos”.
Reflexo no Brasil
Na avaliação dos economistas, uma crise na Argentina afeta diretamente o Brasil, principalmente a indústria brasileira, que tem o país vizinho como um dos maiores destinos de seus produtos manufaturados. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial brasileiro e o maior importador de veículos e de autopeças. Pelas contas de Oreiro, o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, contudo, será pequeno, de 0,2 a 0,3 ponto percentual. “Isso significa que, se o Brasil fosse crescer 2,5%, teria uma expansão de 2,2% a 2,1% por conta de uma forte crise na Argentina”, calculou.
O professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios Alcides Leite acredita que o Brasil precisa agir para evitar que a instabilidade do país vizinho se repita por aqui. “Os problemas argentinos são resultado de uma crise de confiança tanto dos cidadãos quando dos investidores. E isso começou com a perda de credibilidade nos dados oficiais, que foram manipulados. Hoje, ninguém acredita neles”, destacou ele, comparando a situação com a série de artifícios contábeis feitos pela equipe econômica da presidente Dilma Rousseff para o fechamento das contas públicas. (Colaborou Paulo Silva Pinto)
Brasil x Argentina
O resultado da balança comercial entre os dois países é maior que o das trocas nacionais com o resto do mundo (em US$ bilhões)
Ano Exportação Importação Saldo comercial
2003 4,6 4,7 -0,1
2004 7,4 5,6 1,8
2005 9,9 6,2 3,7
2006 11,7 8,0 3,7
2007 14,4 10,4 4,0
2008 17,6 13,3 4,3
2009 12,8 11,3 1,5
2010 18,5 14,4 4,1
2011 22,7 16,9 5,8
2012 17,9 16,4 1,5
2013 19,6 16,4 3,2
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic)
Em entrevista ao jornal argentino Página 12, o ministro da Economia, Axel Kicillof, afirmou que a redução de 35% para 20% na sobretaxa para quem comprar a moeda norte-americana com a finalidade de fazer turismo e compras no cartão de crédito no exterior foi suspensa. Essa redução era uma das medidas anunciadas pelo chefe de gabinete da presidência argentina, Jorge Capitanich, com Kicillof e que valeriam a partir de hoje. O ministro informou ao diário que a abertura do mercado de câmbio será parcial e que a taxa de 20% valerá apenas nos casos de compra dólares para aplicações financeiras. Ele, contudo, não deu mais detalhes.
A forte desvalorização do peso argentino fez com que o governo começasse a rever as barreiras impostas ao mercado de câmbio para segurar a inflação galopante, oficialmente na casa dos 26% a 27% ao ano, mas extraoficialmente entre 35% e 40%. Em meio às remarcações de produtos que tiveram início no fim de semana, Capitanich — que detalhará as medidas hoje — usou o Twitter para dizer que “o governo vai monitorar os preços para evitar abusos”.
A expectativa dos especialistas, no entanto, é de que a facilitação da compra de dólares, mesmo que parcial, criará mais pressões inflacionárias. Com isso, a divisa argentina continuará se desvalorizando, a não ser que o país faça uma série de ajustes fiscais. “Um choque cambial deverá acontecer, mais cedo ou mais tarde, na Argentina. Ele é inevitável”, avaliou o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, José Luís Oreiro.
“O governo argentino criou um populismo fiscal que valorizou fortemente o dólar. Tomou medidas hostis ao capital externo que afastaram os investidores estrangeiros e agora não tem como ampliar as reservas (atualmente em US$ 29,2 bilhões). O retrocesso na economia é tão grande que a situação atual do país não é diferente da enfrentada nos anos 1980 (quando houve a maxidesvalorização que ruiu a moeda da época, o austral) ”, afirmou o professor.
O economista Carlos Eduardo de Freitas, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, também acredita que a tendência é a Argentina chegar a mais uma grande crise. “Os controles impostos para o câmbio estão sendo flexibilizados. Mas, possivelmente, isso não será suficiente e ocorrerá uma ruptura, na qual o governo será obrigado a fazer uma liberalização mais profunda. É difícil administrar a situação artificial que foi criada.” Para Freitas, Cristina “está colhendo a política econômica plantada nos últimos anos”.
Reflexo no Brasil
Na avaliação dos economistas, uma crise na Argentina afeta diretamente o Brasil, principalmente a indústria brasileira, que tem o país vizinho como um dos maiores destinos de seus produtos manufaturados. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial brasileiro e o maior importador de veículos e de autopeças. Pelas contas de Oreiro, o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, contudo, será pequeno, de 0,2 a 0,3 ponto percentual. “Isso significa que, se o Brasil fosse crescer 2,5%, teria uma expansão de 2,2% a 2,1% por conta de uma forte crise na Argentina”, calculou.
O professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios Alcides Leite acredita que o Brasil precisa agir para evitar que a instabilidade do país vizinho se repita por aqui. “Os problemas argentinos são resultado de uma crise de confiança tanto dos cidadãos quando dos investidores. E isso começou com a perda de credibilidade nos dados oficiais, que foram manipulados. Hoje, ninguém acredita neles”, destacou ele, comparando a situação com a série de artifícios contábeis feitos pela equipe econômica da presidente Dilma Rousseff para o fechamento das contas públicas. (Colaborou Paulo Silva Pinto)
Brasil x Argentina
O resultado da balança comercial entre os dois países é maior que o das trocas nacionais com o resto do mundo (em US$ bilhões)
Ano Exportação Importação Saldo comercial
2003 4,6 4,7 -0,1
2004 7,4 5,6 1,8
2005 9,9 6,2 3,7
2006 11,7 8,0 3,7
2007 14,4 10,4 4,0
2008 17,6 13,3 4,3
2009 12,8 11,3 1,5
2010 18,5 14,4 4,1
2011 22,7 16,9 5,8
2012 17,9 16,4 1,5
2013 19,6 16,4 3,2
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic)
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