País sofre com a falta de profissionais para áreas que exigem conhecimento específico.

Os estudantes Vinícius Braga, de 18 anos, Gabriel Coxir, de 17, e Mateus Rodrigues, de 17, acabam de finalizar o curso na Escola Técnica de Formação Gerencial de Belo Horizonte, (ETFG-BH), do Sebrae Minas. Antes de encerrar o curso, eles criaram plano de negócio para reaproveitar o lixo da Ceasa Minas. A ideia é a criação de usina que utiliza o húmus de minhoca para aumentar a qualidade do composto. O plano foi premiado e agora os jovens querem tirar o projeto do papel.

A empresa ganhou o nome provisório de Composita. O seu objetivo é transformar frutas, verduras e legumes, que atualmente são dispensadas em aterro sanitário, em adubo orgânico, por meio do processo de compostagem. “Fizemos três anos de ensino médio junto com o técnico. Primeiro foram formadas as ideias da empresa. No segundo fizemos a pesquisa de mercado e análises”, explica Coxir. O plano de negócio foi tão bem estruturado que ganhou, em outubro deste ano, o segundo lugar no concurso Jovem Empresário, promovido pela da Faculdade IBS, certificada da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O prêmio foi um cheque no valor de R$ 2 mil.

A trajetória de Vinícius, Gabriel e Mateus é a prova da necessidade de o Brasil investir pesadamente em duas frentes: na qualidade do ensino fundamental e na educação profissionalizante, ainda no nível médio, para absorver 85% dos jovens que não conseguem acesso imediato ao ensino superior por falta de condições financeiras ou porque largaram os estudos e não concluíram o ensino médio.

Do total de 22,5 milhões de jovens entre 18 e 24 anos, apenas 3,3 milhões cursam ensino superior. Outros 19,2 milhões estão fora da faculdade. “Esse pessoal que vai para a universidade segue o seu caminho de um jeito ou de outro, mas 85% vão fazer o quê?”, questiona o diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai.

No entender dele, esse é o grande problema da matriz educacional brasileira, de “ser voltada fortemente para o modelo de educação regular, academicista, sem orientação para a educação profissional”. O professor Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, concorda e acrescenta que a educação regular ainda está gritando por socorro.

“O objetivo é uma aprendizagem medíocre, que não colabora com a formação de um cidadão nem de uma liderança no mercado de trabalho”, diz. Isso resulta em baixa produtividade desses futuros trabalhadores e, consequentemente, em empregos informais ou de salários menores. Daniel Cara lembra que o maior problema hoje do Brasil é a falta de técnicos. Mas as escolas técnicas federais hoje atendem apenas a minoria deles.

Empregabilidade O diretor da CNI e do Senai destaca que, no Brasil, apenas 6,6% dos jovens fazem educação profissional junto com o ensino regular, enquanto nos 30 países que integram a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), esse índice é de 42% do total de jovens. A taxa de empregabilidade dos que fazem curso profissionalizante do Senai é de 80%. Mas apenas 2 milhões são treinados a cada ano.

Levantamento do Senai revela que há demanda de 7,2 milhões de trabalhadores qualificados na área técnica de níveis fundamental e médio até 2015. Desses, 1,1 milhões deverão ser novos assalariados. Os outros serão treinados novamente. Os cursos são de 200 a 400 horas, para funções como as de soldador e operador de máquina. Rafael Lucchesi destaca que os 21 profissionais mais demandados pela indústria têm salário inicial de R$ 2,1 mil, podendo chegar a R$ 6 mil mensais após 10 anos de serviço.

Mesmo os jovens com apenas o ensino fundamental têm oportunidade. Lucchesi ressalta que 53% dos postos na indústria têm qualificação profissional de 200 horas, que exigem apenas essa primeira etapa do ensino. Outros 18% são de nível médio e 3%, superior.

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